
Nesta jornada, que se iniciou em 1989, pela graça e misericórdia divina, ganhei admiradores, simpatizantes, amigos, fãs e até haters. E todos, em comum, quando interagimos, sempre fazem a mesma pergunta: onde você trabalha? Parece que é senso comum essa curiosidade.
Esse espaço não foi montado ou construído de um dia para o outro. Foram oito anos garimpando e conquistando, comprando ou recebendo doações de amigos. Mesmo período que estou neste apartamento.
Aqui é o meu local de trabalho, onde passo horas do meu dia produzindo e investindo o meu tempo. Já o chamei de Escritório, Espaço Criativo e Estação de Trabalho. Porém, desde setembro de 2024, uma semana após minha mãe ser recolhida para o Senhor, ele recebeu um novo nome: Escritório Luci C. Marcondes. Com direito a um cartaz, fotos e pertences dela. Uma singela maneira de lembrar e homenagear aquela que sempre acreditou em mim, que investiu e apoiou cada passo do meu caminho, seja como escritor ou como pastor.
Neste espaço não repousam apenas livros, cadernos e computadores, mas também memórias. Cada palavra que escrevo carrega o eco da voz dela, cada linha traz um sopro de sua presença, como se a mão invisível de minha mãe repousasse sobre meu ombro, incentivando-me a prosseguir. O Escritório Luci C. Marcondes não é apenas um lugar físico, é um lugar silencioso de gratidão, onde a ausência se transforma em inspiração. Hoje é o meu escritório, antes foi o quarto da “veinha”, onde tinha total liberdade e tudo de que gostava: cama, ventilador, aquecedor, umidificador, guarda-roupa, mesa para escrever, televisão, HD externo com seus filmes preferidos, rádio, toca-CD, Alexa, estante e até um cantinho para gravar seus vídeos. Só não tinha ar-condicionado, porque detestava…. rss
Mas, quando abro a janela e a luz da manhã atravessa o vidro, sinto que o sol traz consigo um recado do céu. É como se o sorriso dela ainda iluminasse os meus dias, lembrando-me de que o trabalho que faço não é apenas terreno, mas também eterno. Aqui, cada palavra escrita é uma semente plantada no coração dos que leem, e cada semente é também um tributo à fé e à esperança que minha mãe depositou em mim.
Assim, este escritório tornou-se um jardim de lembranças e de promessas, onde a saudade floresce em poesia e o amor se eterniza em páginas.
Neste lugar, cada objeto guarda um segredo, cada canto tem um fragmento de história. O som suave das teclas ao escrever mistura-se à memória do riso dela, que ainda ecoa em minhas lembranças. A cadeira em que me sento hoje é a mesma que um dia testemunhou suas leituras silenciosas. O abajur, que agora ilumina minhas madrugadas de criação, já foi o guardião das noites em que ela conversava com Deus em oração. Passava as madrugadas em oração.
É impossível atravessar este espaço sem sentir que o invisível se faz presente. O ar carrega algo que não se explica, uma paz que não vem apenas do silêncio, mas da certeza de que o amor não morre. Ele apenas se transforma em raiz e flor, crescendo em direções que nem sempre podemos ver.
Enquanto escrevo, percebo que este escritório não é apenas meu. É nosso. É dela, que semeou sonhos e fé, e é de todos que serão alcançados pelas palavras que daqui brotam. Cada texto é uma herança invisível, um gesto de continuidade que mantém viva a chama da esperança.
O Escritório Luci C. Marcondes, mais do que um espaço de trabalho, é um ‘templo’ de memórias. E a cada manhã, quando a luz toca as paredes, sinto que o céu se aproxima um pouco mais, como se o próprio Senhor confirmasse que não estou só. Pois onde há amor, a eternidade começa agora.